segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Oculus (O Espelho) - Review

Quando criança, eu tinha uma moeda que considerava especial. A moeda da sorte e alguma coisa me fazia acreditar que quando a tinha comigo, as coisas funcionavam e quando não estava com ela, o destino estava predisposto a virar-se contra minha vontade. Pois bem, perdi a moeda (ou misturei sem querer com algum troco) anos depois e isso foi o suficiente para me deixar maníaco, apesar de não contar para ninguém. Várias coisas deram errado e só acordei quando percebi que não era o destino predisposto a ir contra a minha vontade e sim eu mesmo.
Oculus (O Espelho, no Brasil) entra sorrateiramente na lista dos horrores assistíveis e que podem ser admirados nos últimos dez anos. Com uma impecável montagem, direção e atuações por ora interessantes, surpreendentes e ora admiráveis, o filme parece despretensioso em seus primeiros minutos quando nos apresenta o velho plot de um objeto amaldiçoado (o que funcionou tão bem quanto em Invocação do Mal). Mas só parece. Seu primeiro ato, apesar de que um tanto lento, não chega a ser ruim porque constrói uma ponte ótima para o segundo e terceiro ato do filme; e é aí que o filme surpreende.
As mais importantes obras do horror cinematográfico insistem em construções em cima de questões morais sobre nosso próprio consciente. Até que ponto iríamos caso estivéssemos naquela situação? O que faríamos? A mocinha gritou, você xinga ela, manda a pobre calar a boca, mas e se fosse você naquela situação? Essa é a magia dos filmes de terror/horror. Em Oculus não é diferente, por vezes durante o filme, me peguei pensando se eu voltaria a enfrentar o espelho após ter passado pelo que os irmãos Russell passaram. Porém, por outro lado, parte questiona sobre a veracidade daquela situação e isso é bem presente no longa. Por vezes, os irmãos Russell parecem distinguir (meio que no achismo) o que é real do que não é e isso deixa tudo apenas mais divertido.

O filme se destaca não apenas por estar carregado de fórmulas que já deram certo em filmes do gênero antes, mas também por seu roteiro retroativo. A trama tende durante toda extensão do filme entre a versão adulta e infantil dos irmãos Russell. Isso possibilita que o espectador mantenha interesse por duas pontas da história: a origem de todo o conflito e a resolução do mesmo. Assim, inteligentemente construído, o filme junta-se à ótima seleção de atores para os papeis e a ótima execução dos mesmos para entregar pouco menos de duas horas de uma história de mão dupla que não perde o rumo em nenhum minuto de sua extensão. Além de tudo isso, o filme ainda conta com um elemento que chama muito à atenção: o fato de não sabermos se os irmãos, ou até a família inteira, estão alucinando ou não. Talvez se os irmãos Russell não tivessem ido atrás do espelho, nada teria acontecido, mas assim voltamos àquela questão: devido ao que aconteceu na infância deles, se fosse você, não retornaria também atrás de respostas? Esse é um ponto que considerei muito importante, principalmente após ter lido a frase "Você o que quer ver" estampado abaixo ao titulo do filme. Com certeza, isso só agregou.
O único ponto negativo do filme talvez se deva à falta de autenticidade na fotografia e direção de Mike Flanagan que apesar de bem executada, não chega a tomar para si o brilho que cabia para essa parte.  Mas quando o espectador percebe isso, já está anestesiado o suficiente com o roteiro de mão cheia, as cenas assustadoras que fogem do comum visto hoje em dia e com as reviravoltas (literalmente) durante a trama. Oculus é a prova que o horror tem e sempre terá os mesmos clichês de sempre quando se trata de roteiro, não importa se o filme se trata sobre adolescentes que vão passar férias numa cabana no meio do nada ou se é sobre um objeto macabro, o que sempre importa é de como essa história vai ser contada.

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