terça-feira, 19 de agosto de 2014

The Zero Theorem (O Teorema Zero) - Review

Por vezes, desde pequeno, minha mãe achava estranho quando eu questionava sobre minha própria existência quando eu percebia que não poderia fazer tudo que eu queria; afinal de contas, por que diabos estou aqui se eu não posso fazer o que eu quero? Ela dizia então que eu devia esperar e que as coisas viriam na hora certa. E eu espero.

The Zero Theorem (ou O Teorema Zero, no Brasil) é o mais novo filme do diretor Terry Gilliam (que você deve conhecer por Doze Macacos e Brasil) e seu esperado retorno à ficção-científica. Amado por uns e odiado por outros, o diretor tem no currículo filmes que não ficam em cima do muro e com toda certeza, esse é mais um deles. A história se apresenta numa complexidade tão nebulosa que muitas pessoas desistiram do filme só no título que, apesar de intrigante, não serve de motivo para aguentar o cinema autoral de Gilliam.
Quando bem resumida, a premissa parece simples. Qohen Leth (Christopher Waltz) é um talentoso programador da Mancom, mas vive atordoado por seu desejo de ir trabalhar em casa afim de não ter o risco de perder uma ligação muito importante. O Gerente (interpretado por Matt Damon) permite com que Qohen trabalhe em casa com uma condição: ele terá que ajudar na resolução do Teorema Zero. Porém, no meio de tudo isso, Qohen conhece Bainsley (talentosamente interpretada por Mélanie Thierry) deixando-o entre o trabalho e a novidade agora tão recorrente, o amor por Bainsley.

É de admitir-se que o cinema de Gilliam é bem característico e isso pode causar estranheza para o público que não o conhece, e o diretor não parece querer economizar. Com uma cena introdutória bem aberta à interpretações, o filme é construído em cima de críticas até que bem estabelecidas se o roteiro não desse o foco para a questão errada. Escrito pelo novato Pat Rushin, apesar de interessante, o roteiro talvez devia ter passado por mais tratamento e Gilliam devia ter se atentado à detalhes que escaparam pelas costas. Assumidamente abstrato e cheio de conceitos existenciais, é uma pena quando o percebemos que o filme quer contar uma história de amor mais do que focar nas questões existenciais de Qohen. Ao explorar o romance com Bainsley, deixamos de lado bons minutos que poderiam ter sido aproveitados para decorrer mais sobre a suposta trama principal.
Quando tratada em tela, todo o mistério por trás da trama do Teorema Zero se resume em uma coisa: o sentido da vida. Assim, podemos começar a traçar paralelos com nossa realidade e isso sim está bem divagado durante toda a extensão do longa. A sociedade em que a trama se passa (um futuro não datado no roteiro) é muito parecido com as sociedades distópicas de THX 1138, 1984 e até mesmo o próprio Doze Macacos. Além disso, é interessante notar a variedade de tons quentes postos no cenário, o que dá a sensação de urgência rapidamente e também o figurino que mescla um futuro brega junto à um saudosismo longínquo dos anos 80.

The Zero Theorem não é de todo mal. O filme é interessante sim em questões visuais e até mesmo as questões e argumentações que o roteiro propõe são válidas. Porém, mesmo assim, tudo continua ladeira abaixo quando o filme abandona de vez todas as suas questões existencialistas e foca em um romance nem tão bem justificado. Sendo assim, uma trama que parecia tão complexa e fechada, desabrocha-se em metáforas óbvias e um tom pretensioso aparece e chega a ser meio vergonhoso.
Terry Gilliam mais uma vez nos mostra que ainda sabe fazer cinema. Suas críticas estão ali, suas cores e, com o perdão da palavra, maluquices também integram a lista, porém, ele parece ter perdido a mão, o jeito e enquanto isso continuamos à espera da volta de Gilliam aos sci-fi. 

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